CINE + TRIBAL - A Falta Que Me Faz, de Marília Rocha

Por conta dos problemas técnicos da última sessão, o próximo Cine + Tribal exibirá o longa metragem "A falta que me faz", de Marília Rocha!


Direção: Marília Rocha
Diretora Assistente: Clarissa Campolina
Produção: Luana Melgaço
Produtor Associado: Helvécio Marins Jr., Felipe Duarte
Fotografia: Alexandre Baxter, Ivo Lopes Araújo
Montagem: Francisco Moreira, Marília Rocha
Desenho de som: O Grivo
Trilha sonora: Arthur H.
Design Gráfico: Marilá Dardot
Site: Fred Paulino
Coordenação de Distribuição: Felipe Duarte
Distribuição: Cia do Filme, Teia | Lume Filmes (DVD)

Durante um inverno, rodeadas pela Serra do Espinhaço, um grupo de meninas vive o fim da juventude. Um romantismo impossível deixa marcas em seus corpos e na paisagem a seu redor. Em meio a conversas, obrigações e prazeres cotidianos, cada uma delas encontra uma maneira particular de contornar a solidão e enfrentar as incertezas de um futuro próximo.

CINE + TRIBAL - A falta que me faz, de Marília Rocha

Direção: Marília Rocha
Diretora Assistente: Clarissa Campolina
Produção: Luana Melgaço
Produtor Associado: Helvécio Marins Jr., Felipe Duarte
Fotografia: Alexandre Baxter, Ivo Lopes Araújo
Montagem: Francisco Moreira, Marília Rocha
Desenho de som: O Grivo
Trilha sonora: Arthur H.
Design Gráfico: Marilá Dardot
Site: Fred Paulino
Coordenação de Distribuição: Felipe Duarte 
Distribuição: Cia do Filme, Teia | Lume Filmes (DVD)

Durante um inverno, rodeadas pela Serra do Espinhaço, um grupo de meninas vive o fim da juventude. Um romantismo impossível deixa marcas em seus corpos e na paisagem a seu redor. Em meio a conversas, obrigações e prazeres cotidianos, cada uma delas encontra uma maneira particular de contornar a solidão e enfrentar as incertezas de um futuro próximo.

CINE + TRIBAL - Acácio, de Marília Rocha


Acácio
Gênero: Documentário
País de origem: Brasil
Ano de lançamento: 2008
Tempo de duração: 80 minutos
Direção: Marília Rocha

No filme Acácio, o etnólogo português Acácio Videira passou 30 anos na Angola e, depois desse tempo, mudou-se para o Brasil com sua esposa. Explorando a bagagem de Acácio, o filme mostra a relação deste casal ao mesmo tempo que redescobre a política e a história que relacionam Brasil, Angola e Portugal

"MINHA FAVELA QUERIDA: A PERMANÊNCIA DA ALEGRIA E ENCANTAMENTO EM UMA MOCINHA COM MAIS DE VINTE ANOS DE PALCO" por Alexandre Mate




"Minha embaixada chegou/ Deixa o meu povo passar/ Meu povo pede licença/ pra na batucada desacatar./ Vem vadiar no meu cordão/ Cai na folia meu amor/ Vem esquecer tua tristeza/ Mentindo a natureza/ Sorrindo a tua dor/ Usei o nome da favela/ Na luxuosa academia/ Mas a favela pro doutô/ É morada de malandro/ e não tem nenhum valor. / Não tem doutores na favela/ Mas na favela tem doutores/ O professor se chama bamba/ Medicina na macumba/ Cirurgia lá é bamba./ Minha embaixada chegou."
Assis Valente

Assisti, pela primeira vez, ao espetáculo Minha Favela Querida, no Festival Nacional de Teatro de Vitória (Espírito Santo), em 1993. Do mesmo modo como naquela ocasião, a obra, novamente, arrebatou-me. Puro encantamento; tanto naquele momento como agora, o sentimento de estar indo ao encontro de algo de que faço parte, de algo me que concerne como sujeito histórico-cultural, enraizado em algum e determinado lugar: sensação de pertencimento.

O Brasil é um país de muita gente bamba, e o genial Assis Valente (1909/1911?-1958), deixou isso manifestado em inúmeras obras geniais. Hoje, poucos o conhecem, sabem quem ele foi, entretanto, suas obras, de uma forma ou de outra, fazem parte dos modos de ser de milhões de brasileiros.

O Grupo Sorriso Feliz, de Cabo Frio (RJ), por intermédio de Minha Favela Querida, representa a “Embaixada” de que fala Assis Valente, cuja parte da letra foi aqui apresentada. Na condição de uma espécie de nau (terrestre), o espetáculo navega por entre as vagas de uma favela, inspirada em milhares, ou quiçá milhões delas existentes pelo país. O espetáculo promove aquilo que os gregos chamam de metaphorai, ou, em português: metáfora; isto é, sem sair da poltrona, se nos deixamos levar pela beleza, somos conduzidos, sem sair do lugar, a uma paisagem que encanta e que remete à tristeza de – agora, sim, com certeza – ao espaço de milhões de brasileiros.

Evidentemente, o predomínio do ritmo do samba não nos afasta (e lá estão os ratos, os assassinados, o cão sem dono, o menino eletrocutado, a infância em processo de droga, a repressão policial, as milícias...) da realidade social. A obra não levanta bandeiras, mas, de acordo com seus recursos singulares (o teatro de bonecos), nos encanta e nos confronta com a realidade social: sem proselitismos, tem-se em Minha Favela Querida um exemplo de uma obra que se caracteriza como um experimento estético-social. O melhor, se se puder pensar assim, para adultos e crianças.

A direção do espetáculo é de José Facury, que participou de experiências estéticas no teatro brasileiro surpreendentes, dentre elas, pode ser destacada a respeitadíssima Tempo de Espera, dirigida por Aldo Leite. O roteiro de Minha Favela Querida é de Clarêncio Rodrigues, que segue “direitinho” a estrutura do velho e bom teatro de revista brasileiro, também desconhecido da totalidade das pessoas, incluindo aí também os artistas de teatro. Na estrutura criada por Clarêncio Rodrigues, desfilam os mais diversos tipos do morro, com grande ênfase àqueles egressos da vida musical carioca (lembrando outro grande poeta: “Quem não gosta de samba/ Bom sujeito não é/ É ruim da cabeça/ ou doente do pé).

O espetáculo não tem, do ponto de vista clássico (e também considerando o teatro de revista) um enredo, a não ser a volta da cabrocha para os braços de seu amor (isso se resolve em dois quadros). Entretanto, ele começa a ser apresentado (na condição do antigo compère (compadre em francês), se consegui entender, por Zé Cavaquinho, que é diretor de Harmonia do Unidos da Vila do Sossego. Logo após a apresentação do Mestre, o prólogo de entrada é desenvolvido com ritmistas, passistas, mestre sala e porta bandeira da escola. Depois dessa abertura tradicional, a obra dará passagem ou colocará em revista os tipos mais comuns daquela sociedade (espécie de microcosmo do existente no mundo): a personagem que mais vezes cruza a cena é um trabalhador. Este, leva uma escada em uma das mãos; e, na outra, apetrechos de trabalho; tal recurso busca quebrar o senso comum segundo o qual carioca não trabalha. 


Além do trabalhador, desfilam, nas mais diversas situações, sempre premidos pela dialética entre a violência do contexto e a alegria do viver, em vários quadros rápidos: as crianças desamparadas, entretanto, felizes por conseguirem brincar em espaço tão adverso à infância; os pastores que prometem a redenção em um outro reino, o fanático por futebol (flamenguista, cuja identificação carioca, ligada ao Fla X Flu, não funciona para os paulistas); dois urubus que vão “comer a prima”, oferecida a algum orixá; muitas e deliciosas coplas cantadas e dançadas, por negros sambistas (ou, como eternizou Assis Valente), a “gente bronzeada mostrar seu valor”; homenagens diversas são apresentadas nos quadros. Dentre eles, a sensibilidade do roteirista e do conjunto, não deixaram de fora Noel Rosa, por intermédio da canção cantada por Carmem Miranda em O maior castigo que te dou. O teatro mostra, nos mais diversos detalhes o seu a que veio. Algumas personagens estereotipadas se fazem presentes, mas na sociedade espetacularizada em que vivemos, os minutos de fama e de glória, têm transformado muita gente em estereótipos ambulantes...

A cenografia que ambienta tantas personagens-bonecos – cuja “vida se faz” por meio de impecável manipulação: direta, por fios e por luva: os manipuladores são mestres no ofício -, materializa-se por tratamento primitivo. No cenário tudo é delicado e encantador: até mesmo os ratos que saem do lixão (onde também “presuntos” são jogados).

Minha Favela Querida, exatamente pelo fato de dignizar a linguagem teatral (e não apenas do à teatro de bonecos), caracterizou-se em um grande momento da 26ª edição do Festivale – Festival Nacional de Teatro do Vale do Ribeira. Desse modo, além do cumprimento aos já citados, é fundamental destacar os manipuladores (Clarêncio Rodrigues, Gabriel Bezerra e Ramon Rodrigues), que conseguem “tirar samba do pé dos bonecos” e “rebolado das cadeiras da mulatas”. Então, como se fazia no bom teatro de revista: Oba!

Alexandre Mate é pesquisador, escritor e crítico teatral.

Tribal Sobre Rodas da Animação - Praça da Matriz - São Pedro da Aldeia - RJ

"Fragmentos de Tamba ki" de Adriano Chagas

Fragmentos de Tamba ki

Cabo Frio é uma cidade escolhida pelos deuses. Aqui a beleza nos ladeia. Temos um mar de águas claras que ao leste nos banha; as dunas, com sua formação de areia que por séculos insistem em “correr” pela praia mudando seu desenho; a mata que sempre foi berçário de espécies endêmicas; e é claro o sambaquieiro, esse elemento extraordinário que viveu nessas paragens desde sempre e que, talvez, só as árvores saibam de sua história! Mas há um fato “novo”!
Sambaqui, palavra originária do tupi Tamba ki que significa “montanha de conchas” ou concheiros. Essas estruturas que podiam atingir vários metros de altura, como de diâmetro, a exemplo do sítio arqueológico de Figueirinha – I, em Jaguaruna (SC), que tem aproximadamente 15 metros de altura¹, levando-se em conta a área a qual esses povos se fixavam, era o local onde esses mesmos faziam suas refeições e tinham com os seus. Ali passavam grande parte de seu tempo, abrindo conchas e moluscos para se alimentar. Além das conchas, depositavam outros materiais utilizados para fins alimentares ou não, tais como: cerâmicas; pedras lapidadas, para que servissem de objeto cortante; ossos que poderiam ser usados como adornos e madeiras utilizadas para fogueiras. Essas formações originaram-se do acúmulo de sedimentos que com o passar do tempo e erosão misturaram-se as conchas e utensílios, que, juntos, ficaram armazenados no solo, depositados pelo revezamento natural dos povos dessa região, criando assim uma riqueza de informações num mesmo local, que é, historicamente falando, algo incrível. A julgar que em todo o litoral brasileiro é possível encontrar sambaquis, é bem provável que esses tenham mantido contato e algum tipo de comércio, o qual por si só aumenta sua importância.
As informações expressadas acima são fundamentais para entender a importância que representa um sambaqui e o peso e complexidade cultural a qual vem associada a ele. Um local onde a história de um povo pode ser vislumbrada e compreendida na amplitude, embora restrita, de seu cotidiano. E Cabo Frio mais uma vez nos presenteia com algo desse tipo. É isso mesmo, mais um sítio arqueológico foi descoberto em Cabo Frio, precisamente na Aldeia do Portinho, trata-se de um Sambaqui, onde foi encontrada uma ossada de fêmea, batizada de Boop. Porém o sítio arqueológico está situado em uma área de construção, onde brevemente levantarão um Shopping Center. A impressão que se tem é que todo o suposto desenvolvimento deve ser feito a custa de “sacrifícios”, assim como os Vândalos, tribo germânica oriental, que destruíam os locais onde conquistavam com o discurso de se construir algo “mais” belo e melhor, apagando assim qualquer indício de cultura anteriormente. Afinal quando se quer destruir um povo, primeiro apaga-se a sua história. E nesse quadro surgem algumas dúvidas! Seriam nossos governantes pouco ou quase nada entendidos de cultura a ponto de jogar concreto em cima dessa história? Nós, sociedade civil organizada, estudantes, acadêmicos, arquitetos, engenheiros, autoridades, arqueólogos e IPHAN podemos juntos lutar pela preservação desse patrimônio que é de todos?

Pausa para reflexão.

Adriano Chagas
Estudante do 3º período de história
Universidade Veiga de Almeida


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¹ www.itaucultural.org.br/arqueologia