Ciclo de Leitura: CHICO BUARQUE


A TribAL convida a todos para o 19º CICLO DE LEITURA, desta vez sobre a obra de CHICO BUARQUE. Este evento tem por objetivo desvendar quem é esta pessoa, trazer a literatura, a composição musical e a dramaturgia brasileira para perto do seu público, criar o hábito da leitura, assim como proteger e exercitar o que há de melhor em nossa cultura. Como funciona o Ciclo de Leitura? Traga algum texto (poema, conto, poesia, crônica, curiosidades, composição, etc.) sobre o autor indicado. Se preferir, venha apenas para ouvir e "viajar".
DIA: sexta-feira, 23 de novembro de 2007.
HORÁRIO: 20:33h
LOCAL: Espaço Sorriso Feliz - Teatro de Marionetes
, Rua Jorge Lossio, esquina com Francisco Mendes (próximo ao Corpo dos Bombeiros), Centro, Cabo Frio - RJ.
Gratuito.
O QUE JÁ ROLOU: Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana (100 anos), Paulo Leminski, Nelson Rodrigues, Érico Veríssimo (100 anos), Rachel de Queiroz, Fernando Sabino, Vinícius de Moraes, Plínio Marcos, Cecília Meireles, Arnaldo Antunes, Maria Clara Machado, Ferreira Gullar.

CineTribAL - Mostra de curtas-metragens


Venha curtir um cineminha!
Exibição de 7 filmes de curta-metragem (nacionais e estrangeiros), entre eles: animação, ficção, documentário e experimental.
Gratuito.

Dia: sábado, 24 de novembro de 2007
Horário: 20:33h
Local: Museu de Arte Religiosa e Tradicional
Convento N. Sr.ª dos Anjos
Largo de Santo Antônio, Centro, Cabo Frio
Apoio:
- Ministério da Cultura - Departamento de Museus e Centros Culturais
- IPHAN - 70 anos
- Café Expresso e Cia
- Espaço CyberTel

Conto: "O Corsário"


Errantes. A nave abatida deslizava rápida e cheia de complexos nas fortes ondas de uma tempestade de verão. Diante do esplendor atmosférico, não fazia sentido para o corsário encontrar ali outra nave que trouxesse pirataria esdrúxula como os exóticos escravos africanos. “Porque diabos a coroa estaria preocupada com insignificantes animais de pele condenada”. Abortou essa idéia de sua cabeça infeliz e inteligente.
As imagens se sucediam delirantes e ambiciosas como se o corsário estivesse embriagado; ou tivesse bebido um barril inteiro de vinho sozinho frente á possibilidade de um naufrágio. Não sentia medo; apenas fascinação. Eram ondas gigantescas que gritavam, cheias de si, pelo simples fato de querer ficar sozinhas naquele período; afinal, excitadas, era indecente ter aquelas caravelas ali deslizando na superfície do seu ventre. Parecia que o barco as deixava mais e mais... aborrecidas. Era de costume o mar agir assim em tempos de menstruação. O corsário sorriu ironicamente; e mesmo naquele estado de uma suposta embriagues, ele não tutibiou em cobiçar aquela loucura; aquele estado do vai e vem das ondas que fazia do barco algo divertido, vulnerável e delirante. Foi quando ao virar-se viu, na proa, algo flutuando como uma nuvem. Uma mulher de vestido longo, branco e esvoaçando como uma neblina. A imagem não fazia parte da cena, mas possuía independência própria na sua aparição. Era linda, e o corsário perdido começou a desconfiar da sua própria sanidade. Não sentia a caravela tocar, no vai e vem das ondas, a ponta dos seus pés. Passou a acompanhar os movimentos insólitos do fantasma que o retirava de suas funções primordiais: dos seus deveres de estar ali na proa. Passou a desejar algo com tanta intensidade que a própria fascinação da tempestade já não mais cabia na sua lúcida tentativa de se manter no equilíbrio abordo.
A nave vacilava perdia nas ondas rumo ao nada e ia sendo consumida pela voracidade das profundas águas obscurecidas. Em fúrias, num desvio de ilusão, o barco tombou sem relutar com a força do mar, entregando-se de uma forma frenética e sedutora a gula da volúpia marinha. Afogado, homem e marujo ficaram divididos numa tentativa inútil e esbravejando de tentar resgatar um pouco mais de sobrevida para reerguer o mastro da hermafrodita nau; ou quem sabe, a obscura dualidade corsária. Tarde de mais. Emborcada, no derradeiro, ofegante e convulsivo, o navio ia sendo tragado pela incontrolável volúpia de um mar corpulento e dominador. Toda a tripulação movia-se tranqüila e agonizante nas profundas águas onde a paz conjugava o destino dos náufragos com a morte quente e anestésica. Inconformado, o corsário relutou contra, e; indo até a superfície, tentou inutilmente ressurgir das trevas para outra tão bela e desigual. Mas seu coração já fora roubado no encontra de duas tempestades perfeitas e catastróficas. Decidiu, então, pelo cansaço, deixar o corpo corsário afundar nas águas eróticas do gigantesco ventre marinho. Não era à força de uma ressurreição; mas o nascimento de uma divindade ungida pela aparição de um espectro santificado fora de hora. O corpo desceu tranqüilo, morto, adormecido. Vendo, era algo que se podia acreditar na existência de Deus: a nave tombou oca, desfalecida, rangendo em várias cicatrizes e repousando no conforto das areia mais macias existente em todo o oceano; para logo em seguida, no decorrer de dois mil anos, dá vida a inúmeros cardumes, crustáceos e mamíferos que povoaram a sobrevivência de uma entropia molecular.
Nadando exaustivo, o homem nu chegou a uma praia deserta. Diante de tantos acontecimentos, ele se viu ali isolado, desprovido e sem utilidade. Estarrecido, viu a nau suspensa num imenso rochedo, triunfante, com suas velas resplandecentes esvoaçando ao sabor dos ventos. Como um bom corsário, mais uma vez, deixou-se afogar com a beleza do mastro em vigorosa ereção. Deu de queixos.

Paulo César de Souza - Setembro de 2007 (Búzios)