Curta-metragem e a sua lei


Por Flavio Pettinichi*
Apesar de pequenos na forma, eles podem ser considerados grandiosos. Por um período curto de no máximo vinte minutos, eles conseguem ter longa permanência na memória do espectador. Cuidadosos ao extremo, eles têm que saber dosar o impacto, a surpresa, o humor ou a poesia, pois não é muito difícil errar a mão. Os curtas-metragens ganharam espaço no mercado brasileiro, sendo produzidos em mais de 19 Estados. Com baixo orçamento, a produção nacional de curta-metragem pode se caracterizar por uma palavra: diversidade; com temas, cenários e estéticas de várias regiões do país. Durante os anos 90, época dura para o cenário cultural do país, foi talvez o único setor em atividade no cinema brasileiro. Alguns dados evidenciam essa força de continuar vivo: na década de 80, uma média de 120 títulos finalizados por ano, e no decorrer dos anos 90, uma produção de 80 filmes por ano. Hoje, o seu espaço vem sendo consolidado pouco a pouco, com festivais que mostram o que de melhor vem sendo produzido e também revelam jovens cineastas, que na maioria das vezes acabam por fazer deste tipo de produção o seu batizado no mundo cinematográfico. O cineasta Luís Carlos Lacerda afirma que existia, e ainda existe, uma lei que obrigava a passar um curta brasileiro antes de qualquer filme estrangeiro, mas que deixou de ser cumprida há duas décadas e reforça a importância dos festivais para os curtas: ''É preciso ter o cumprimento dessa lei para que seja definitiva a presença do curta no mercado. Se para o longa é difícil, para o curta é mais ainda. A Riofilme produz 20 curtas por ano, o que é pouco - é muito importante lembrar.
Se a lei existe, como é possível que ninguém a cumpra? Será que os órgãos públicos não vêem isso, ou fazem caso omisso a essa situação? Não é direito do cidadão exigir que as leis sejam cumpridas? Por sorte, existem organizações que estão preocupadas com isso e tentam reverter esse quadro, questionando e realizando eventos que chamem à reflexão para estes acontecimentos. A TribAL é uma das poucas organizações, na região, que vem realizando as mostras livres de curta-metragem. Em suas edições, realizadas na Casa 500 anos de História, em Cabo Frio, conta, em média, com uma platéia de 45 pessoas, dentre profissionais de cinema, autoridades do poder público e público em geral, mostrando assim que o curta-metragem tem muita aceitação. É muito importante salientar que a TribAL não conta com apoio financeiro para estes eventos, e eles só acontecem porque a vontade de vencer barreiras supera a sensação de letargia que acomete a grande maioria dos encarregados de manter e desenvolver a nossa cultura. A Secretaria de Cultura de Cabo Frio e o público interessado têm colaborado para que este evento continue a acontecer. Ficamos felizes com este acontecimento, esperando que ele se expanda até a realização do tão esperado Festival de Cinema. Longa vida ao cinema! Longa vida ao curta-metragem!
*Artista plástico, cineasta, poeta, ...

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